Meu nome é Sheila Vasconcellos, sou carioca, tenho 43 anos e
sou diabética tipo 1 desde os 15. No início, não foi fácil. Eu estava de malas
prontas para minha viagem de 15 anos para a Disney e tive que cancelar tudo
para aprender a lidar com a doença. Fomos ao médico porque eu estava perdendo
muito peso, urinava muito e sentia um grande cansaço (sintomas clássicos da DM).
O primeiro médico, um jovem, prescreveu uma dieta de restrição aos carboidratos
e, para nossa surpresa, suspendeu as atividades físicas.
Imagina...fiquei fora
dos campeonatos de vôlei do colégio. Mas depois procuramos um especialista, o
melhor no Rio de Janeiro: Dr. Francisco Arduíno. Ele fez o diagnóstico
corretamente e comecei o tratamento com a insulina (NPH de porco), me ensinou a
fazer as medições de glicemia (pela urina), tive auxilio de uma nutricionista
para a dieta e o incentivo a prática de exercícios físicos. Íamos de 3 em 3
meses ao seu consultório e ele sempre queria saber da minha vida, do que eu
pensava, meus planos e sonhos.
Hoje vejo que ele sempre enxergava o paciente, além do
diabetes. Passei esta fase tentando fazer o melhor...mas nem sempre conseguia.
Também tive fases em que neguei a doença, vivendo normalmente (comia sem
critérios), só tomando a insulina conforme o prescrito. Mas isso não basta, né?
Então encontrei o homem da minha vida, meu marido, e engravidamos três meses
depois, sem qualquer planejamento. Logo veio o medo por não entender sobre o
efeito das mudanças da gravidez na diabetes e os riscos envolvidos.
Tive o
acompanhamento de perto da minha endocrinologista e pedi que ela me
acompanhasse no parto também. Correu tudo bem na cesárea. Minha primeira filha
Bruna nasceu com 38 semanas, em 19/05/1998, com 4.250kg. Ela teve hipoglicemia
nos dois primeiros dias, mas depois a glicemia se estabilizou.Amamentei-a por seis
meses exclusivamente com leite materno, depois, por conta do retorno ao
trabalho, adicionamos sucos e alimentos pastosos. Ela está crescendo forte e
saudável e completou 15 anos em maio deste ano. Escolhi Bruna porque queria um
nome forte e feminino e lembrei-me da atriz Bruna Lombardi, lindíssima e que
falava com muita atitude. Minha filha é assim mesmo!
Mas a gente nunca está satisfeita. E eu sempre pensei em ter
mais um filho, um menino, para formar o casal.
Entretanto, sempre tive muito
medo. Passaram-se 5 anos sem qualquer controle anticoncepcional, quando engravidei
porém sofri um aborto natural com apenas 2 meses de gestação. Fiquei triste?
Sim. Mas não perdi as esperança. Seis meses depois engravidei novamente e
prometi a mim mesma fazer todo o possível para ter meu filho com saúde. Minha
endocrinologista nesta época era bastante naturalista e falava que eu precisava
aproveitar mais a vida, fazer exercícios e que tudo correria bem. Sua calma me
tranquilizava e me deixava confiante. Minha meta era controlar a doença para
ter um bebê menor do que a Bruna. E como vcs podem ver pela tabela abaixo,
durante a gravidez meus números melhoravam.
A1c
|
V.R.
|
Data
|
Eventos
Importantes
|
10,6
|
5
a 8,85
|
21/01/1998
|
|
6,7
|
4,8
a 7,8
|
18/04/1998
|
19/05/1998
- Nascimento da Bruna
|
7,8
|
4,80
a 6
|
23/08/2003
|
|
8,7
|
4,6
|
10/03/2004
|
|
7,2
|
4
a 6
|
13/07/2004
|
06/10/2004
- Nascimento do André Felipe
|
9,2
|
4
a 6
|
01/12/2004
|
|
8,6
|
4
a 6
|
17/03/2005
|
|
8,9
|
4
a 6
|
10/01/2006
|
|
7,5
|
4
a 6
|
19/09/2008
|
Entretanto, meu esforço não foi o suficiente para atingir
meu objetivo. Meu segundo filho, André Felipe, nasceu também de cesárea, com 39
semanas e pesando 4,435kg. Desta vez, meu bebê também apresentou hipoglicemia
nos 2 primeiros dias e, para nossa surpresa, precisou ficar 15 dias na UTI para
se recuperar de uma pequena má formação de uma veia do coração. Foi muito
difícil ser liberada do hospital e não levar meu filho comigo. No hospital,
estranhavam porque ele ainda estava internado se ele era grande como um lutador
de sumô.
Eu brincava dizendo às mães que, enquanto seus filhos prematuros
precisavam ganhar peso para terem alta, o meu precisava perder peso. Era uma
piada infeliz, confesso, mas que eu usava para me distrair enquanto não
conseguia tê-lo em meus braços. Logo ele foi para casa e foi alimentado durante
8 meses exclusivamente com leite materno o que lhe garantiu um crescimento e
desenvolvimento perfeitamente normal. A escolha do nome foi um acordo pela
combinação do André (minha escolha) e o Felipe (escolha do pai). Achamos que o
nome compostoAndré Felipe era original e soava muito bem!
O importante nestes períodos em que fiquei grávida é que não
tive nenhuma complicação grave, nem precisei ficar internada por descompensações
da glicemia. Tive uma ou outra hipoglicemia tratada de forma caseira com água e
açúcar. Quanto aos exames pré-natais, não tivemos nenhum evento fora do normal.
Somente na última ultrassonografia morfológica da Bruna, o médico do laboratório
percebeu o início de um sofrimento fetal, entrou em contato com meu obstetra
que decidiu por fazer a cirurgia imediatamente. Minha filha nasceu no mesmo dia
do exame, à noite.
O que eu posso dizer para quem é diabética e alimenta o
sonho de ser mãe? Faça o que tiver ao seu alcance para que sua glicemia fique o
mais próximo do normal durante toda a gravidez. O exercício leve é muito bom e
manter uma dieta saudável também é fundamental.
Fazer a nossa parte é o que nos
compete e certamente seremos recompensados com a saúde de nossos filhos. Depois
que tive filhos, em 2009, sofri uma grave crise de hipoglicemia enquanto andava
pela rua. Sem sintomas, perdi os sentidos e pulei de um jardim suspenso até a
calçada da rua de uma altura de aproximadamente 2 metros. Quebrei o tornozelo
esquerdo, fui operada, coloquei uma placa e 9 parafusos. Fiquei 3 meses sem
andar, 6 meses em tratamento fisioterápico para voltar a pisar só voltei a
trabalhar após 10 meses de licença. Neste período, tentava procurar uma
resposta sobre o por quê precisei passar por este
acidente tão terrível. E a resposta é que eu precisava cair em mim, precisava
me tratar melhor, ainda melhor, e que o diabetes não podia ser mais
negligenciado. Eu tinha dois filhos para criar e queria viver o máximo de tempo
com a melhor condição física possível. Comecei a fazer exercícios, a comer de
forma saudável e equilibrada e com isso perdi 10 kg em pouco mais de um ano.
Meus resultados nunca estiveram tão bons, como vcs podem ver abaixo. Estou na
minha melhor fase de vida e sei que pelos meus filhos, faço o que for
necessário e, até mesmo, o impossível!
5,9
|
4
a 6
|
23/03/2009
|
QUEDA - Grave hipoglicemia sem
sintomas.
|
6,7
|
4
a 6
|
30/06/2009
|
|
6,4
|
4
a 6
|
29/09/2009
|
|
6,6
|
5,7
A 6,4
|
23/02/2013
|
|
6,7
|
ATE
5,7
|
05/06/2013
|
Às futuras mamães, deixo meu recado:
“Sonhem e construam alicerces firmes para seus sonhos.
Cuidem do diabetes para que possam ter saúde para cuidar dos seus filhos.”
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Mosaico da Sheila. |