A cada e-mail ou mensagem que recebo respondo á todas, e foi assim que me tornei amiga virtual da Gilsiane...
Eu lutando pela maternidade e ela idem. Engravidei primeiro e comecei a narrar toda minha gestação no blog, trocávamos e-mails e por aí foi... Até que... Gil engravidou, os e-mails trocados já não eram tantos, ambas na correria com médicos,exames,estudos e trabalho. Davi nasceu e continuamos a conversar, até que pedi á ela o depoimento de sua gestação
(http://diabetesevoce.blogspot.com.br/2013/11/gilsiane-assiduo-cuidado-na-gestacao.html), gentilmente a mesma me mandou prometendo enviar o depoimento pós-parto e assim o fez. Rico em detalhes e nos provando que se as coisas fugirem do roteiro não tem importância, o importante é termos filhos saudáveis.
Emocionem-se!
Relato de Parto
No
dia 17-11-2013 fomos cedo ao hospital Sofia Feldman para a internação.
Acordamos cedinho, tomamos café da manhã e conversamos um pouco sobre o momento
que estávamos vivendo e saímos com malas prontas. Eu e Paulo estávamos felizes
com aquele momento, quando o nosso bebê já estava bem próximo de nascer. Havia
a possibilidade de nascer neste dia ou no dia seguinte.
O
médico havia indicado indução do parto neste dia em que completávamos 38
semanas de gestação, devido aos riscos de o bebê crescer exageradamente, por
causa da diabetes; o líquido amniótico já estava aumentado. Uma enfermeira
obstetra do hospital – Raquel - me esperaria na maternidade, mas ao chegar lá
soube que ela estava de folga, mas para a minha surpresa ela apareceu lá posteriormente
para me orientar. Achei super doce a sua atitude. Mesmo em sua folga,
deslocou-se até à maternidade para me receber. Eu havia conhecido Raquel dias
antes nas minha idas ao hospital (Casa da Gestante) para fazer a
cardiotocografia.
A
indução foi iniciada às 13h com o uso de Misoprostol via vaginal. Foram colocados
mais 2 comprimidos, um às 17h e outro às 21h. Já no início da noite fiquei
caminhando um pouco pelo hospital para ajudar na dilatação. Neste momento vejo
o meu obstetra, Lucas, chegando ao hospital. Que bom! A princípio ele estaria
de férias, mas foi dar um plantão.
Já de madrugada, com 2 a 3 cm de
dilatação, o meu médico indicou que colocássemos uma sonda ao invés de
continuar com a introdução do comprimido. Ele mesmo introduziu a sonda. Isso
doeu um pouco, ela ficava tracionada na cama. A sonda ajudou ainda mais na
dilatação. Quando ela saiu já estava com cerca de 5cm de dilatação. Até então
estávamos num box da maternidade, no pré-parto, eu era acompanhada por
enfermeiras obstetras super atenciosas, que regularmente iam até lá ver como eu
estava e escutavam o coração do bebê, com o sonar. Depois que a sonda saiu fui
andar mais um pouco, ficava agachada a fim de estimular ainda mais a dilatação
e as contrações. Estava me sentindo bem, apesar das contrações.
Por volta de 5h do dia 18-11-2013
fui para o refeitório tomar café da manhã. Há muito tempo não era tão difícil
comer algo. Comi duas fatias de pães integrais com muito esforço. Como já tinha
aplicado a insulina, não poderia deixar de comer, pelo risco de ter uma
hipoglicemia. Paulo me estimulava a comer. Comi sem vontade.
Em seguida fui para a bola de
pilates debaixo do chuveiro de água quente. Que água boa! Era um alívio para as
dores. Nesse momento chorei de emoção. Estava super feliz. Estava vivendo o que
sonhei, o que acreditava e o que temia não poder viver por autoritarismo médico
(nem sei se posso falar assim, mas era o que sentia...). O meu desejo estava se
realizado. Estava em trabalho de parto e teria um parto natural, onde eu queria
e como sonhei.
Depois Raquel chegou para o seu
plantão, me encontrou e me conduziu para uma suíte do hospital: Suíte Dona Beja
e me disse que outra enfermeira me acompanharia no trabalho de parto, já que
ela estaria noutra função naquele dia. A enfermeira Laís ficou comigo durante
todo o tempo na suíte. Lá fiquei no chuveiro, na bola de pilates e na banheira.
As contrações iam aumentando gradativamente e a hora se aproximando.
Paulo esteve comigo durante todo
o tempo: forte, atencioso, carinhoso e cuidadoso comigo. Ele sempre lembrava a
equipe de fazer minhas glicemias capilares quando percebia que a minha glicemia
podia estar caindo. Com estes cuidados
dele e da equipe, as glicemias se mantiveram impecáveis.
Muito boa a prescrição da equipe
de endocrinologia do Hospital das Clínicas que me acompanhou nas 28 consultas
(quase semanalmente) durante a gestação, sendo que a primeira consulta foi na 5a
ou 6a semana de gestação. Aconteceram também algumas prescrições via
e-mail. A preceptora de endocrinologia do HC, Kamilla, respondia meus e-mails quando era necessário
fazer alguma alteração da prescrição. Mostrou-se muito disponível comigo. Só
tenho a agradecer.
Voltando à glicemia: às vezes ela
parecia querer baixar, mas meu marido buscava algo para que eu comesse e ela se
mantivesse estável. Tomei suco natural e comi frutas na manhã de 18-11. Entre
uma contração e outra parece que eu conseguia um segundo de relaxamento e às
vezes dormia e dizia coisas sem nexo. Eu percebia isso e o Paulo também. Lá
pelas 11h o meu médico passou no quarto e sugeriu que a bolsa fosse rompida.
Raquel apareceu na suíte para fazer isso. Ela fez uma espécie de “chuveirinho”
para que o bebê não descesse abruptamente. Eu estava com muito líquido
amniótico. Nesse momento verificou-se que havia mecônio no líquido (o bebê
havia evacuado no útero). Mecônio por si só não é um motivo para uma cesariana.
Raquel e Lucas continuaram com a ideia de não interrompermos o trabalho de
parto que estava evoluindo, apesar de a dilatação não ter evoluído tanto, mas
as contrações, estas sim estavam cada vez mais intensas. Nesse momento Lucas
disse que eu não poderia ter o bebê na água, mas poderia ter de cócoras ou de
“quatro” na cama. Outra coisa importante que ele me disse foi: “Gilsiane, pedir
analgesia não é pecado. Você já está aqui há mais de 24h, permita-se a
analgesia, caso queira. Esse processo é muito cansativo”. Nossa, isso foi muito
importante pra mim naquele momento. Eu já estava com muitas dores e realmente bastante
cansada. Durante a noite eu e Paulo não dormimos mais de 2h de sono. Resolvi
pedir a analgesia. Temia que Paulo me recriminasse naquele momento, mas ele só
me apoiava. Fomos para a sala de anestesia. Esta sala não é nada boa. Lá há
vários equipamentos com aqueles barulhinhos de máquina de oxigênio, que me
assustaram um pouco. Até aquele momento eu nunca havia entrado numa sala
daquelas. Além disso o anestesista me deixou um pouco ansiosa, assustada. Foi
meio tenso. Mas Paulo estava lá comigo e tentava me tranquilizar, além de Laís
e da técnica em enfermagem Míria. Depois de ser anestesiada ainda permaneci
naquela salinha por mais 30 minutos, onde eu e o bebê erámos monitorados.
Estávamos bem. Nesse momento o Paulo saiu para almoçar. Disse que tomou um
pequeno cálice de vinho no refeitório do hospital para ficar no mesmo clima que
eu (risos).
Voltei para a suíte e sentia-me
renovada, colocaram ocitocina venosa em mim. Sem dores, pude almoçar. Comi uma saladinha de berinjela
deliciosa e uma salada de frutas. Comi com prazer. Nesse momento a insulina foi
suspensa, mas continuávamos fazendo as glicemias capilares de hora em hora.
Após o almoço nova cardiotocografia foi feita e eu voltei para o chuveiro. Laís
havia me explicado que a analgesia seria temporária e que poderia retardar o
trabalho de parto, mas por outro lado, a ocitocina aumentaria as contrações.
Depois de mais ou menos 1h no chuveiro as dores estavam muito intensas
novamente, parecendo com o momento em que eu havia pedido a analgesia. Quis
sair do chuveiro, estava difícil caminhar, voltei para a cama. Durante todo
este tempo Laís usava o sonar para ouvir os batimentos cardíacos do bebê, mesmo
quando eu estava debaixo do chuveiro. Ela havia identificado que o coraçãozinho
do bebê estava com os batimentos mais lentos e chamou outra pessoa para
conferir junto com ela. Já na cama Laís
ligou novamente o aparelho de cardiotocografia para escutar os batimentos
cardíacos do neném com este equipamento mais preciso. Nesse momento – cerca de
13:55h - ela, sem que eu e Paulo percebêssemos, chamou a equipe e eu fui
conduzida ao bloco cirúrgico para uma cesárea necessária de urgência. Às 14:15h
Mayala nasceu.
No bloco cirúrgico fui
anestesiada novamente, mas agora com uma anestesia mais forte, rapidamente
fiquei sem sentir nada da cintura (ou um pouco acima) para baixo. Vi Maeve
(enfermeira obstetra, minha conhecida) na porta, ela me mandou um beijo, disse
que tudo daria certo. Como isso foi bom. Laís me falou rapidamente o que estava
acontecendo e que naquele momento o coração do bebê já estava melhor e que a
cesariana aconteceria.
Paulo ainda não estava sabendo ao
certo o que estava acontecendo e estava juntando nossos pertences na suíte Dona
Beja. Eu estava sozinha, sem ele. Não sei se isso era bom ou ruim, já que eu
sabia que ele não gostaria de ver uma cesariana. Ele foi avisado que o bebê
nasceria no bloco e foi convidado para
ir até lá. Quando ele chegou lá, eu já estava sendo operada. Ele ficou sentado
pertinho da minha cabeça, me tranquilizando. Nós não víamos nada. Havia um pano
tampando os obstetras. Eles não nos conheciam nem nós a eles. Escutávamos um
deles falando: “força garoto, força garoto”. Eu não entendia direito o que ele
queria dizer com isso, já que o bebê ainda estava no útero naquele momento. Depois
de alguns minutos é que eu entendi. Ele estava falando com outro colega –
residente ou acadêmico – o bebê estava bem baixo e ainda não tinha sido
retirado do útero. Só depois é que eles tiraram o bebê e alguém perguntou: “o
que é?” “É uma menina”, outra pessoa respondeu. Ela chorou. Um choro fraquinho,
mas chorou. Eu fiquei muito feliz e mais tranquila. Os médicos começaram a
brincar e a perguntar qual seria o nome dela. Eu e Paulo dissemos que queríamos
ver a carinha dela para definirmos o seu nome.
Após o nascimento algumas medidas
precisaram ser tomadas devido ao estado de Mayala.
Nasceu com 3.595kg e 50 cm;
foi necessário fazer sucção nas vias aéreas, ela estava com dificuldades de
respirar. Pensaram em levá-la para o CTI ou UTI, mas graças a Deus não foi
necessário. Ela precisou de ficar no oxigênio por um tempo, lá mesmo no bloco
cirúrgico. Fizeram glicemia capilar dela. Ela nasceu hipoglicêmica, como a
maioria dos bebês de diabéticas, mas não precisou de complemento alimentar,
graças a Deus. Foi colocada no meu peito, ainda na sala de cirurgia. Paulo viu
que ela abria a boca e colocava a língua pra fora. Ele sugeriu que ela fosse
amamentada e isso foi permitido. Fomos nós duas juntas para o quarto. Ela no
meu peito. Apesar de eu não ver direito
a carinha dela durante a amamentação, porque tinha que ficar sem elevar a
cabeça devido à cirurgia, estava feliz demais de ter leite e de ela poder se
beneficiar disso.
![]() |
Gilsiane e Mayala |
As glicemias dela foram
monitoradas nas primeiras 24 horas de vida e graças a Deus ela respondeu bem.
Teve alta junto comigo, 48 horas depois do parto. Eu recebi uma
endocrinologista do hospital – Letícia - no dia seguinte ao parto que fez nova
prescrição pra mim. A resistência insulínica acabou após o parto. Redução
drástica da dosagem de insulina.
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Paulo e Mayala |
Toda a equipe do Sofia Feldman
nos tratou muito bem. Só temos a agradecer. Acho que a única coisa que não foi
legal foi o anestesista, meio grosseiro e um médico que, depois do parto -
estávamos eu, o Paulo e Mayala no meu peito ainda na sala de cirurgia. O Paulo
queria diminuir as luzes que estavam em cima de nós e este médico chegou. Ele
nem trabalhou no nosso parto e falou com o Paulo, sem explicar o porquê – na
verdade não tinha nenhum motivo – para que ele saísse de lá. Ficamos muito tristes
com isso. Mas essas coisinhas chatas não tiraram o brilho da Maternidade como
um todo. O pessoal do refeitório foi muito legal comigo – lembro-me da Cláudia.
Atenciosa, preocupada com a minha dieta de diabética. Todas as técnicas em
enfermagem que monitoraram as minhas glicemias e os nossos dados vitais. Foram
muitas. Todos os enfermeiros. A maioria era mulheres, mas tinha um homem no
quarto do pós-parto: Reginaldo – muito atencioso, respeitoso e cuidadoso
comigo. Enfim, não consigo agora lembrar todos os nomes, mas toda a equipe
merece reconhecimento, inclusive da Casa da Gestante, que me acolheu em
diversas oportunidades para fazer cardiotocografia, retirada dos pontos no
pós-parto. Alguns nomes ficaram na memória e no coração: Raquel, Laís, Lucas, Edson,
João Batista, Míria, Adrinez, Tainá, Jordânia, Kely, Maeve, Poliana, Gabriela,
Paula, Letícia, Reginaldo, Cláudia, Normanda, Lílian, Fernanda.... Ao sair da
maternidade, na portaria, o porteiro pediu o formulário da alta. Paulo estava
louco pra irmos pra casa e estava colocando este formulário na pasta com certa
correria. Este porteiro (não sei o nome dele) falou: “calma, vá com
tranquilidade, está tudo bem, vocês estão com o bebê de vocês”. Achei super
humano e acolhedor.
A escolha pelo nome
A escolha do nome já vinha há uns meses, mas Mayala entrou na lista aos 45 do segundo tempo... rs.
Pensamos em Maia (mãe de Buda, significa ilusão, teve uma fecundação meio mágica) e Malala (aquela garota do Paquistão que levou um tiro e lutava para que as meninas de lá estudassem).
Resolvemos juntar os nomes e deu Mayala, que a princípio não sabemos se tem algum significado.
Pensamos em Maia (mãe de Buda, significa ilusão, teve uma fecundação meio mágica) e Malala (aquela garota do Paquistão que levou um tiro e lutava para que as meninas de lá estudassem).
Resolvemos juntar os nomes e deu Mayala, que a princípio não sabemos se tem algum significado.
Amamentação
Tenho amamentado exclusivamente e penso em fazer isso, pelo menos, até os 6 meses dela. Às vezes isso é difícil, já que tenho que monitorar continuamente as minhas glicemias para não ter hipoglicemia com ela, continuo verificando as glicemias inclusive na madrugada. Tive duas hipoglicemias mais severas após o parto, mas Paulo me salvou. Ele percebeu e eu conferi com o glicosímetro e comi. Tive também algumas hiperglicemias, claro. Mas regra geral as glicemias têm ficado boas. Já tive uma consulta pós parto no HC e em breve voltarei para o meu endocrinologista que me acompanhava anteriormente.
Mayala e nós
Mayala é como os bebês recém nascidos, dorminhoca. Tem trocado o dia pela noite. Mas na última noite ela dormiu super bem e consequentemente nós também. Espero que isso comece a ser um contínuo.
Agradeço principalmente a Deus
por ter me permitido viver tudo isso e pelo presente de termos uma filha
perfeita, linda e saudável. Que Deus
continue nos abençoando nesta linda tarefa de sermos mãe e pai de Mayala.
Que lindo e emocionante relato, Gil! Fico muito feliz! Felicidades para Gilsiane, Paulo e Mayala!
ResponderExcluirGilsiane, parabéns pela maternagem e pelo lindo relato! Fiquei emocionada e com os olhos marejando com a riqueza de detalhes desse momento tão especial da vida - dar a luz a um novo ser! Recordei o nascimento da minha filha que também foi no Sophia Feldman e do afeto do pessoal de lá. Todo o seu esforço deu oportunidade à Mayala de participar da sua chegada ao mundo e ela já chegou campeã por ter vencido grandes obstáculos. Parabéns ao casal que soube esperar o momento e utilizar dos recursos da medicina na hora certa. Preparem para grandes alegrias e emoções reservadas especialmente para os pais amorosos como vocês já são. Beijos, Lourdinha.
ResponderExcluirGilsiane, vi seu depoimento anterior e tava torcendo muito por vocês. A maternidade sempre surpreende e acho que já começa no momento do parto, quando muitas coisas saem diferentes do planejado.
ResponderExcluirVocê foi uma guerreira nessa jornada para trazer a Mayala ao mundo e, certamente, ela já ee muito grata por isso.
Muito leite pra vc e força na amamentação. Tb tenho sofrido com as hipos, mas sei que é um esforço que vale a pena. :)
Beijão!
Gilsiane e Paulo,
ResponderExcluirParabéns a vocês dois pela bebezinha linda que é a Mayala.
Felicidades a essa linda família