Diabetes Tipo Mãe
A
maioria das mulheres sonham com a maternidade, seja ela no útero ou no coração.
O sonho fica no campo das idéias, até que finalmente, decidi-se a hora em que
se deve ter um bebê ou adotá-lo. Algumas não têm a chance de se organizarem
antes da concepção, engravidam sem planejamento.
Com
ou sem planejamento a maternidade para a mulher diabética é algo que muda
totalmente sua vida, a gestação por si só é algo que mexe muito com a mulher,
tanto no campo físico quanto no emocional, o diabetes oscila com todas estas
mudanças, o metabolismo e hormônios femininos mudam significativamente, o que
altera o controle glicêmico, esta é uma linha tênue com o diabetes.
Quando
a diabética engravida um medo toma conta de si, são vários os questionamentos,
o universo feminino já é tão complexo... São tanto os Serás...
-Será
que eu posso?
-Será
que não vou perder o bebê?
-Será
que vou dar conta?
-Será
que vou conseguir?
-Será
que meu filho terá saúde?
São
tantos os questionamentos que este texto seria muito pouco para elencá-los e
para encontrar respostas para os mesmos. O fato é que para uma gestação bem
sucedida e planejada há alguns passos, sendo estes:
- Fale com seu endocrinologista, pois é ele que
sabe do seu cotidiano como diabética, por seus dextros, hemoglobina glicada
(que deve estar inferior a 6,5%) e seu histórico ele melhor que ninguém poderá
lhe direcionar;
-Procure um ginecologista/obstetra de alto risco, o
mesmo lhe pedirá exame pré-concepcionais e lhe instruirá em que momento você
deverá iniciar o uso do ácido fólico ou vitaminas necessárias;
-Se possível, seja assistida por uma nutricionista,
pois a mesma lhe fará uma dieta antes, durante e depois a gestação, já que para
cada uma dessas fases há uma necessidade maior ou menor de certos tipos de
alimentos;
- Grande parte dos médicos aconselham diabéticas
engravidarem mais jovens, portanto com menor tempo de diagnóstico, para se
evitar as chances de desenvolver (se já não
tiver) algumas doenças como: retinopatia e nefropatia (problemas na visão e nos
rins) que podem se agravar durante a gravidez. Porém é sabido que com o
tratamento adequado, respaldo e aval médico, pode-se ter uma ótima gestação, independente
da idade, mas grande parte dos profissionais alertam para os possíveis riscos.
É fundamental o trabalho em conjunto entre obstetra
e endocrinologista, já que toda e qualquer decisão deve ser tomada em conjunto
com base no que for ocorrendo na gestação. Conheço mulheres que foram acompanhadas
apenas por seus obstetras, estes mexiam nas dosagens de insulinas e cuidavam da
parte endócrina da gestação, tiveram êxito, eu particularmente não aconselho,
julgo imprescindível ambos profissionais.
Enfim... São tantas expectativas e cuidados até que
finalmente o tão esperado resultado do Beta HCG chega positivo, o coração acelera
a cabeça gira e agora se inicia um novo ciclo de constantes variações
glicêmicas. O
fato é que depois de ter engravidado e de ter tido contato com várias mães
diabéticas cheguei a uma conclusão: Cada corpo reagirá de uma determinada
maneira, seja na questão alimentar, nos sintomas da gestação ou até mesmo na
oscilação glicêmica. Porém algumas coisas são padrões. Levantei aqui questões
que para mim são determinantes antes, durante e também no pós-gestação,
principalmente se houver amamentação.
-
Envolver-se com seu tratamento,
-
Tenha uma equipe médica especializada em gestação de alto-risco,
-Questione
sua equipe médica quando tiver dúvidas e as esclareça,
-Não
compare sua gestação e seu tratamento com a de outras diabéticas, cada uma é
cada uma,
-Confie
em seus médicos,
-
Pratique exercícios físicos (se permitido pelo médico),
-Ingira
bastante líquidos,
-Dieta
regrada,
-Monitoramento
glicêmico com organização em planilha, sugiro isso, pois desta forma você
consegue ter um parâmetro nos dias e horários de hipo ou hiperglicemias. Quando
julgar necessário faça também um diário alimentar porque desta forma perceberá
como certos tipos de alimentos reagem em seu organismo/glicemias, evitando-os
se necessário.
É
sabido que o sonho da maternidade para a diabética é possível, porém a palavra
CONTROLE deve fazer parte desta trajetória.
Se o
diabetes estiver mal controlado nas primeiras semanas da gravidez, os riscos de
abortamento espontâneo (passei por isso) e malformação congênita do bebê são
maiores, como por exemplo, cardiopatias.
Nos
estágios mais avançados da gravidez há os riscos de: polidrâmnio (aumento do
líquido amniótico) também torna-se comum e pode causar parto prematuro, o feto
pode entrar em hipóxia (baixa oxigenação) no terceiro trimestre, chegando ao
óbito, macrossomia (aumento de peso e tamanho) fetal, hipoglicemia, síndrome da
angústia respiratória (dificuldade para respirar), hiperbilirrubinemia (icterícia), hipocalcemia (pouco cálcio no sangue) e distúrbio alimentar.
Se
as mulheres diabéticas seguirem um programa de controle e vigilância adequado
as chances de terem filhos saudáveis são de 95%.
Elenquei
algumas intercorrências que podem haver, pois acho de suma importância a mãe
diabética conhecê-las, acho que o conhecimento nestas horas tende a cooperar
muito, falo por experiência própria já que tive um bebê macrossômico, prematuro
por ter tido polidrâmnio e por estas razões ele teve também síndrome da angústia
respiratória, passou nove dias na UTI para ser melhor atendido. Todas as coisas
que lhe ocorreram foram passageiras, saber sobre elas me ajudou muito a entender
o que ele estava passando. Não se desespere com tudo o que está lendo, são
coisas que muitas vezes independe de nós mães e podem ocorrer com qualquer
gestante, diabética ou não.
O
primeiro trimestre gestacional tende a ser o com maior número de hipoglicemias,
já que o bebê utiliza a glicose materna para desenvolver-se. Os enjôos e
vômitos, também cooperam para que se tenha hipoglicemia, diminuindo assim a quantidade
aplicada de insulina. Por esta razão as diabéticas devem fazer lanches entre as
refeições e antes de deitar para evitar hipoglicemias, pacientes diabéticas tipo
1 devem ter glucagon à mão e instruir alguém caso seja necessário para
aplicá-lo. A ocorrência de uma hipoglicemia
severa durante a gravidez pode levar a um quadro de sofrimento fetal sério, danos
neurológicos no bebê ou até mesmo morte fetal.
No segundo trimestre é percebido um aumento sutil das
glicemias, já que o hormônio placentário tem características do hormônio do
crescimento (eleva as glicemias).
No último trimestre
as glicemias sobem consideravelmente, a mulher começa a ter uma resistência à
insulina, outros hormônios passam a aumentar na corrente sanguínea todos eles
necessários neste processo. O ganho de peso e alimentação também contribuem
para os quadros de hiperglicemias. Esta
loucura toda que ocorre em nosso corpo tem uma explicação: A resistência insulínica da gestação
serve para levar nutrientes preferencialmente para o feto em desenvolvimento,
permitindo simultaneamente o acúmulo de tecido adiposo materno. Por isso a
quantidade de insulina que a mulher aplica pode até mesmo triplicar, isso é
normal.
Lembro da minha obstetra falando que o hormônio que “abençoa”
o bebê (o faz crescer) é o mesmo que para minha glicemias seriam uma
“catástrofe” já que várias são as mudanças metabólicas e hormonais que ocorrem
na gestação.
Durante as consultas seu endocrinologista criará metas
glicêmicas do seu pré e pós-prandial (isso é individual), o mesmo julgará
melhor forma de tratamento e medicamentos, acredito que não há melhor ou pior
forma de tratar-se há uma forma específica para cada paciente.
São mais de duzentos dias gestando, muitas coisas acontecem
nesta caminhada, acredito que seguir o proposto pelo médico só tende a cooperar
durante a gestação, a mulher consegue ótimas glicemias (claro que nem sempre
isso é possível) e não tem excesso de peso caso se dedique neste período.
Acredito
que vale salientar que filhos de mães diabéticas podem apresentar hipoglicemia
ao nascer, é extremamente normal isso ocorrer já que as hiperglicemias da mãe
durante a gestação estimulam o pâncreas do bebê a produzir quantidades
significativas de insulina para que o mesmo trabalhe com a glicose recebida em
excesso por meio do cordão umbilical. No nascimento quando o cordão umbilical é
cortado o estoque de glicose cai rapidamente e há insulina em excesso na
corrente sanguínea do bebê o que pode ocasionar uma hipoglicemia neonatal. Após
o nascimento a equipe médica envolvida, faz o dextro no bebê, não nos dedos
como nas crianças e adultos, mais sim no calcanhar do recém – nascido ou
através de um cateter umbilical (um tubo colocado no cordão umbilical do bebê).
O
pediatra do Davi me disse que o ideal seria fazer um dextro na mãe durante o
procedimento cirúrgico, pois devido à anestesia, emocional da mãe e situação, a
glicemia tende a aumentar (é muito estresse para pouco tempo) o que pode elevar
a glicemia na mãe, fazendo que o feto produza uma quantidade excessiva de
insulina e nasça com hipoglicemia.
Nas
primeiras horas de vida provavelmente o bebê irá para a UTI Neonatal (caso
tenha hipoglicemia ou outra intercorrência) para ser melhor assistido, sei que
toda mãe quer seu filho ao lado (senti isso na pele), mas acho que neste
momento vale à pena pensar no bem-estar do seu bebê. Quando fui ganhar meu bebê
queríamos tê-lo em nossos braços, porém sabíamos que isso poderia nos acontecer
o que nos preparou para a situação, como dito acima mãe orientada é mais fácil
para entender o que está havendo.
O bebê será monitorado na Unidade de Terapia Intensiva
conforme sua necessidade. Pode ocorrer do hospital oferecer fórmula ao lactente
para ajudar a subir a glicemia, este é um assunto discutível já que há mães que
pretendem não oferecer aos seus filhos fórmulas apenas o aleitamento materno.
Acho que vale a pena analisar a situação e ver o que é melhor para o
recém-nascido naquele momento. Amamentação é um momento prazeroso na vida de
mãe e filho acho que não vale iniciar este momento de forma tão incisiva,
algumas coisas devem ser levadas em consideração.
Lembro de o meu bebê ter nascido com 45mg/dl de
glicemia, para peso e faixa etária dele os médicos não consideraram uma
hipoglicemia grave, ficaram apenas monitorando-o. Em casa medi sua glicemia e
estava 58mg/dl, me desesperei, corri para o pronto-socorro, eu sabia quais eram
os sintomas de uma hipo e não queria que meu filho os sentisse, quando fui
informada que 58mg/dl não é hipoglicemia para um bebê, pois as necessidades nutricionais
e tamanhos dele são diferentes da do adulto, me tranqüilizei, aquele valor era
normal para um recém-nascido. O pediatra do pronto-socorro nos falou que os
valores hipoglicemia em um recém-nascido são:
Leve de 40mg/dl a 50mg/dl
Moderada de 20mg/dl a 40mg/dl
Grave abaixo de 20mg/dl.
Em diálogo com o pediatra do Davi, este falou que estas taxas
são teoria, podem até valer para um bebê de mãe sem diabetes, pois para nenê de
mãe DM na prática a ação é diferente.
Filhos de mães diabéticas que estão com a glicemia abaixo de
60 mg/dl, logo são levados para serem amamentados ou recebem fórmula para subir
a logo a glicemia, pois correm o risco de terem hipoglicemia por fabricarem
insulina em excesso e precisam de um tempo para se adaptarem a nova realidade
(fora da barriga). Bebês de mães sem diabetes com esta mesma taxa glicêmica
raramente correm este risco.
A opção do parto deve ser uma escolha em conjunto com seu
médico, levando em consideração sua opção e riscos para você e para o nenê.
Mulheres diabéticas podem ter parto normal, tem ótima cicatrização na cirurgia
e podem amamentar.
A amamentação é outro momento que nos exige atenção, boa
vontade e cuidados. A glicemia oscila muito, tende a cair já que no momento de
amamentar nosso consumo de energia é maior, minha endócrino disse que é como se
estivéssemos fazendo exercícios físicos, as doses de insulina devem ser
ajustadas, tenho amigas que passaram alguns dias sem aplicar insulina.
Lembro de ter tido uma
hipo pela madrugada, ela foi extremamente severa, delirei, passei mal e meu
marido nos socorreu, depois daquilo fiquei dias traumatizada, me questionando:
-E se eu tivesse sozinha?
O que seria de mim e do bebê?
Por conhecer meu corpo e
ser comprometida com meu tratamento fui fazendo alguns testes até achar “uma
harmonia”. Nos primeiros meses a dosagem da insulina basal era menor e não precisava
contar carboidratos para refeição.
Depois tivemos que
aumentar a basal e achar uma dosagem adequada para a insulina ultrarápida na contagem
de CHO. Se nunca tive estabilidade nas minhas dosagens, na gestação e
amamentação tive menos ainda, mas eu tinha um foco, queria amamentar e não desisti
me envolvi com o tratamento e a planilha do dextro me ajudou a ver onde
precisávamos mudar as dosagens de insulina.
Davi tem quase 11 meses e
até hoje amamento, não começo amamentar com a glicemia inferior há 150mg/dl, se
tiver abaixo disso procuro me alimentar, por que senão terei hipo na certa.
Dá para amamentar e deixar
tudo nas mãos do endócrino pra que ele resolva, mas cada dia é único e eu
resolvi participar ativamente deste processo.
Sempre sou questionada se
mulher diabética pode amamentar.
Claro que pode!
Não transmitimos diabetes
e nosso leite não é docinho srsrs. Nosso corpo funciona como o de uma mulher
não diabética, claro que temos algumas particularidades, nada que nos façam
menos mulheres.
No Brasil o aleitamento
materno exclusivo é apoiado até os 6 meses e com a introdução de outros alimentos
até os 2 anos. Cabe a mãe decidir qual método usar, confesso que nunca
amamentei exclusivamente, porém nunca deixei de amamentar.
Não tem pra onde correr,
maternidade diabética é possível, mas exige de nós comprometimento,controle e
assiduidade.
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