Me chamo Luciane, tenho 24 anos prestes a completar 25, sou empresária e
artesã. Completei há pouco 14 anos de diagnostico, 14 anos de muita luta muita dificuldade,
mas, de uma felicidade imensurável. Desde o momento que descobri o diabetes não
vi como uma dificuldade nem um empecilho na minha vida, mas como um
aprendizado. Descobri quanto fui internada com 10 anos (prestes completar 11)
cheguei com minha glicose em 815 no hospital, me deparei com uma doença que
nunca havia escutado falar.
Meu tratamento durante 6 anos foi com as insulinas NPH e HUMALOG. Aos 17
anos de idade comecei a apresentar algumas neuropatias e tive que mudar meu
tratamento no qual já estava acostumada e adaptada. Tentamos vários tipos de
insulina, pois meu corpo já tinha se "acostumado" com a NPH e não
fazia mais efeito, tentei Lantus, Levemir, nada fazia efeito, usava nove
comprimidos todos para melhorar meus sintomas que já estavam insuportáveis. Foi
um dos piores anos da minha vida, três internações, muitas náuseas e dores no
corpo. Passado todo esse ano, não teve jeito tivemos que comprar a tão famosa
bomba de infusão de insulina, um tratamento caríssimo, mas com a ajuda de toda
minha família conseguimos juntar o valor e comecei o tratamento, no qual estou
ate hoje, custeamos parte do tratamento até ganharmos a ação e conseguirmos os
insumos pelo Estado de São Paulo. A bomba de insulina foi a melhor coisa que me
aconteceu, parei com todos os comprimidos, simplesmente não sentia mais nenhum
dos sintomas da neuropatia, me senti uma pessoa renovada.
Sempre fui uma pessoa muito ativa e atrapalhada, confesso que isso dificulta
meu tratamento, nunca fui uma adolescente rebelde, evitava comer doces, fazia
contagem de carboidratos, mas simplesmente esquecia de aplicar insulina, mesmo
com a bomba eu esquecia (ate hoje esqueço, e com a maternidade isso piorou rs),
mas consegui me manter bem e nunca deixei de viver se quer um segundo da minha
vida por ser diabética.
Aos 19 anos conheci meu marido, fomos morar juntos
quando completei 21, em Maio de 2013 (eu com 22 e ele com 25 anos) nos casamos.
Com toda certeza do mundo um dos dias mais felizes da minha vida! Junto com o
casamento veio à vontade de ser mãe, sempre me preocupei com a dificuldade de
ser gestante e diabética, pensava que não queria esperar muito tempo, pois
tinha medo de não poder engravidar por alguma complicação do diabetes.
Em agosto de 2013 parei com o anticoncepcional e
comecei o acompanhamento com endócrino e ginecologista, comecei a fazer uma
bateria de exames (ainda não estávamos tentando engravidar, mas nos preparando
pra isso), a meta era engravidar quando minha hemoglobina glicada estivesse
abaixo de 7%, naquele momento estava em 8%. Alguns meses depois consegui
atingir a meta dos 7% mas alguns problemas ginecológicos começaram a aparecer,
e descobrimos então que a Síndrome do Ovário Policístico (tive na adolescência,
mas tratamos rapidamente com anticoncepcional), algo que dificultaria a sonhada
gestação.
Foram quase 12 meses fazendo testes de farmácia na
expectativa do tão sonhado positivo, pois o medicamento pode atrasar a
menstruação e no meu caso atrasava todos os meses. Começou a bater insegurança
e ansiedade, já me sentia emotiva e comecei a fazer todas as "simpatias"
possíveis. Pouco tempo antes de completar um ano sem anticoncepcional comecei a
tomar hormônio para ajudar na ovulação, foi uma luta, sintomas terríveis, me
sentia muito mal. Foram três meses tomando a medicação e nada de engravidar ,
quando voltei na consulta o medico comentou que eu poderia ter problema de
infertilidade, fizemos todos os exames eu e meu marido e nada constava. Resolvi
buscar uma segunda opinião, o novo medico me passou vários exames e parar todas
as medicações, quando comecei a fazer os exames mais específicos tive muitas
cólicas e desconforto no pé da barriga. Fui ao hospital achando que poderia
estar com algum probleminha de saúde já que as dores eram fortes, fiz mais
exames e nada constou. Quinze dias depois voltei a ter dores muito fortes,
minha menstruação estava atrasada 1 dia (já nem ligava mais, pois chegou a
atrasar 20). Liguei pro meu marido que estava trabalhando e resolvemos ir ao
hospital novamente, antes disso resolvi fazer um teste de farmácia (quando se
faz tratamento com hormônio é a primeira coisa que perguntam quando a
menstruação esta atrasada: fez o teste de farmácia?) fiz e fui tomar banho,sabia
que não estaria grávida, mas quando abri o box do banheiro, as duas listras apareceram
e inúmeros questionamentos me rondaram, eu fazia as minhas próprias perguntas e
as respondia... Estava querendo engravidar, mas acho que essa é a reação de
toda mulher no momento que se vê a segunda listra rsrsrs. Fomos ao hospital já
q estava com dores. Era a semana do aniversario do meu marido. Muitos
sentimentos rolando.
Chegamos ao hospital e veio à confirmação de que eu
estava grávida. Quando fiz o ultrassom viram que poderia ser uma gravidez ectópica
(nas trompas) já era de madrugada quando o ginecologista veio conversar que teríamos
que interromper a gravidez e tirar a trompa (o que dificultaria em 50% a chance
de engravidar novamente). Nesse momento meu coração veio na boca. Uma agonia. Sentimento
inexplicável eu e meu marido nos olhávamos sem entender por que de tudo isso
estar acontecendo. Foram fazer minha internação e já não tinha mais vaga no hospital.
Pediram transferência para um hospital e maternidade muito longe da nossa casa.
Quando chegamos ao hospital a medica nos disse que não queria fazer a cirurgia,
gostaria de esperar uns dias e ver se realmente era uma gravidez ectópica ou um
cisto de corpo lúteo (um cisto que aparece bem no comecinho da gravidez).Eis
que três dias depois descobrimos que a gravidez era tópica e o embrião já
estava no útero. Foram os segundos mais felizes da minha vida. Que noticia maravilhosa!
Só queria agradecer a Deus pelo milagre que havia nos dado!!!!!
Uma nova fase começou muitos controles e cuidados. Fiz tratamento
com uma equipe ótima que me apoio muito durante a gravidez, foram dois endócrinos
e dois obstetras que me acompanharam (os profissionais de que já me
acompanhavam mais os do Programa de Alto Risco do Plano de Saúde – critérios do
programa).
Tive poucos sintomas da gravidez, muitas vezes nem
lembrava que estava grávida, me sentia tão bem e realizada. Quando a barriga
deu uma boa crescida sim, veio o cansaço e o “peso” dela rs. Os controles
glicêmicos oscilaram muitas hipos e hipers, mas me mantive na glicada abaixo de
7%.
Resolvi fazer meu chá com 30 semanas de gestação,
sempre tive medo de um parto prematuro, queria me adiantar em tudo, um dia
antes do chá entrei em trabalho de parto, muitas contrações e dilatação, uma
dor insuportável tomou conta de mim. Fiquei internada por três dias e
conseguimos controlar para ela não nascer antes do tempo. Voltei pra casa e a
guerra começou péssimos controles, tive que tomar corticoide no hospital para
fortalecer os pulmões dela e nunca mais minha glicemia foi à mesma, não saia
dos 300.
Foram dias exaustivos, não aguentava mais, não
conseguia controlar, tive muitas contrações nesse período, foi uma fase terrível,
passava no medico toda semana para melhorar os controles e ela não ser uma
criança macrossômica , foi difícil , mas não foi impossível.
Agendamos o parto cesárea para o dia 29/06/ 2015,
mas a bolsa rompeu dois dias antes. Depois de um dia comum de trabalho, dia em
que trabalhei até às 22hs, ás 2 da manhã a bolsa estourou senti dores e fomos
para o hospital, foi tentado parto normal até às 8 da manhã, foi muito dolorido
e vomitei muito, mas depois foi decidido fazer a cesariana e no dia 26 de junho
de 2015, com 37 semanas a Clara veio ao mundo pra me tornar a pessoa mais feliz
do mundo seus pulmões estavam maduros, não teve hipoglicemia, precisou de UTI
somente pelo fato de ter tido icterícia.
![]() |
Anderson,Clara,a bomba e eu. |
A UTI foi a pior
experiência, ir pra casa sem ela, sem nossa filha que tanto planejamos, dói, mas
o tempo passou rápido. Nesse período de UTI foi difícil me cuidar, pós-parto
com a correria de amamentação muitas e muitas hipoglicemias.
Amamentar sempre foi meu sonho,
tive hiperlactaçao, durante o período de UTI eu tirava na bomba. Quando ela
voltou pra casa foi complicado, pois Clara começou a ter refluxo e não se
adaptou com o leite materno. Tive hipoglicemia durante a amamentação, quando
introduzi fórmula própria pra refluxo minha glicemia aumentou muito cheguei a
ter HI e estou na fase de readaptação com as dosagens. Confesso que ainda está
difícil controlar as glicemias.
Conciliar trabalho, o
cuidado com a Clara e DM está sendo difícil, dou prioridade pra ela e esqueço-me
de mim, estamos em uma fase de adaptação em casa conhecendo um novo mundo, uma
nova vida a três, momento de muita felicidade e de muito cuidado com ela devido
ao refluxo e comigo pelos descontroles da glicemia.
Hoje minha princesa esta com três meses, é LINDA e
SAUDÁVEL, veio ao mundo para nos encher de alegria.
Digo a todas vocês mulheres diabéticas, a gestação
é possível sim, apesar dos pesares ate as 30 semanas tive uma gestação normal,
sem complicações, me controlei muito e tive bons resultados. Não podemos ver a
diabetes com uma dificuldade em nossas vidas, não somos diferentes e nem
incapazes, temos algumas restrições, mas nada que não possamos dar conta, somos
pessoas normais e dignas de felicidade.
Ass. LUCIANE, ANDERSON, CLARA e a BOMBA DE INSULINA.
Linda a história, merece a felicidade deste momento com certeza...
ResponderExcluirParabéns a Família :-)