Me chamo Mariana Rodrigues Mello. Tenho 23 anos, e hoje
trabalho como Promotora de vendas.
Eu tinha apenas 10 anos quando descobri que era diabética. Foi um choque pra toda família.
Diabetes não era uma coisa muito comentada, as pessoas não entendiam muito. A
única coisa que se ouvia falar, era que diabéticos não podiam comer doces. Um
verdadeiro transtorno na vida de uma criança.
Inicialmente tomava NPH na seringa, e aos trancos e
barrancos, conseguí uma bomba de insulina. O que era pra ser uma melhora, se
transformou em uma depressão. Uma criança de 12 anos não sabe lidar com o
questionamento das pessoas, as milhares de perguntas centenas de vezes ao dia,
andar com um aparelhinho pendurado na barriga.. Pra mim estava sendo bem
difícil. As coisas pioraram quando aos 15 anos fui assaltada e levaram minha
bomba. Devido todas as mudanças que tive que fazer, entre elas, medicação,
alimentação mais rígida, e um pouco mais, engordei 20kg e entrei em depressão
profunda. Foi quando larguei mão de tudo. Já não me cuidava, não fazia meus
dextros, e a alimentação foi pro espaço. Comecei então a fazer o uso de LANTUS
e HUMALOG. Poderia ter tido uma melhora, mas no fundo, eu ainda não
aceitava a diabetes.
Aos 20 anos, por um milagre, não havia nenhuma seqüela pelo meu
mal controle da diabetes. Então conheci o meu marido. Começamos a namorar e
logo estávamos morando juntos. Ele que me deu forças pra sair do buraco em que
eu havia me jogado. Comei a cuidar um pouco melhor de mim, mas não o
suficiente. Demorou um tempo pra ele aprender e entender um pouco sobre meu
problema, mas com o tempo ele foi pegando o jeito.
Após dois anos sem ir ao médico, encontrei uma
Endocrinologista, que me ajudou muito. E que é minha médica até hoje. Me deu
forças, me encorajou...
A essa altura minha família já tinha perdido as esperanças
em mim. Pra eles eu era rebelde, fazia o que queria, e nada nem ninguém me
faria mudar. Mal eles sabiam, que devido ao meu marido, que me tirou da
depressão, eu já havia mudado, e muito.
O tempo foi passando, e logo veio a vontade de formar uma
família. Me questionei muito tempo a respeito, pois as pessoas adoram botar
medo em nós diabéticos. Minha mãe não aprovava
a idéia, achava perigoso para mim. Os médicos me colocavam mais medo
ainda. E as pessoas, ainda ignorantes em relação a diabetes diziam que eu era
uma pessoa ruim, por não pensar que estragaria a vida de uma criança, dando a
luz a ela sabendo que ela seria diabética (esse é apenas um dos enormes
absurdos que ouvi). Ficava com raiva, chateada, chorava.. Briguei com Deus
diversas vezes. Porque eu? Sempre quis ser mãe, e a diabetes mais uma vez me
deixaria em depressão.
Até que um dia aconteceu. Em meio a uma infecção de urina,
misturei antibióticos com um suplemento fortíssimo que estava tomando. Os remédios
juntos fizeram uma falha no anticoncepcional (o que é raro acontecer), e minha
menstruação que sempre foi tão certinha, desrregulou, e em dezembro de 2014,
com uma glicada 12, e com um dia de atraso da menstruação, eu sabia que estava
grávida.
Bateu o desespero. Chorei horrores.. Minha endocrinologista
iria me matar. Minha mãe ia surtar.. E a ignorância de muita gente começou a
penetrar na minha cabeça, e pensei que eu e o bebê, provavelmente iríamos
morrer. Quanta bobeira, meu Deus!
Por sorte, Deus faz as coisas na hora certa, e acabei
encontrando sem querer uma obstetra MARAVILHOSA que é especialista em gestação
de alto risco. Ela me tranqüilizou muuuito desde a primeira consulta. Em menos
de um mês a glicada foi pra 9 (não estava perfeito, mas pra quem tinha uma
glicada dançando entre 16 e 12 havia anos, 9 estava ótimo).
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Minha gestação |
Tive uma gravidez extremamente tranqüila, sem internações,
apenas uma ou duas infecções de urina, que já era normal de acontecer. As
dosagens da insulina aumentaram um pouco pra poder controlar melhor. Fui as 40U
de LANTUS, e 1U de Humalog para cada 8g de CHO.
Inchei muito durante a gravidez. O excesso de insulina, o
sedentarismo, a barriga gigante.. Estava cada dia maior. Engravidei com 68kg, e
ao final da gravidez estava beirando os 82kg. Hoje graças a amamentação estou
com meus 62kg e cada dia mais magra.
Todos os exames da minha filha deram normais. A formação, o
coração.. Tudo perfeito. E a descoberta do sexo foi emocionante. Lembro que ao
pegar meu exame POSITIVO, falei para a moça que trabalhava comigo, que eu iria
ter uma menina. E não é que eu aceitei? Vinha então a minha Laura. Nome
escolhido pelo pai,e muito elogiado por todos. Fiquei feliz com o nome. Laura
significa vitoriosa, triunfadora.
No dia 12/07/2015, aniversario da minha mãe, completei 34 semanas, e veio um susto:
calcinha extremamente molhada. Fui ao hospital, e a médica de plantão garantiu
que estávamos bem, mas marcou uma ultrasson pro dia seguinte, pro meu
“descargo” de consciência. E qual não foi a surpresa quando a ultra mostrou que
eu estava com metade do liquido na bolsa?! Internei na hora. A idéia da
obstetra era me deixar internada até a hora da minha pequena Laura nascer. Até
as 40 semanas seria 1 mês e meio no hospital. Quase tive um treco.
Assim os dias foram passando, até que dia 16/07/2015 de
madrugada as dores vieram. Junto com elas, mais liquido saindo, e o tampão já
dando sinal também. Minha médica só iria me ver no dia seguinte de tardezinha.
Passei a noite em claro com contrações, dores, e muita azia. As 14h do dia 17,
a obstetra aparece, faz um exame de toque, e lá vem outra bomba: NÃO TINHA
DILATAÇÃO ALGUMA. Eu queria muito um parto normal.
Marcamos a cesárea para as 19h. Tirando o medo por entrar no
centro cirúrgico sozinha (partos pré-maturos não podem ser assitidos por
familiares), e a anestedia subir ao invés de apenas descer, foi um parto bem
tranqüilo. Fiquei meio em pânico, chorei, e o anestesista acabou me dando um
tranqüilizante. APAGUEI! Fui acordada pra ver minha filha nascendo.
Laura nasceu linda, cabeluda, com bochechas enormes, pesando
seus 3.060kg e com 44cm.
Foi direto para UTI, onde permaneceu por 6 dias após uma
HIPO, e pela sua leve preguicinha na
hora de mamar. Ela só queria saber de dormir, e sem mamar direito o hospital não
nos deixava ela ir embora. A pior coisa da UTI
foi ir pra casa e deixá-la por lá. É triste chegar em casa e ver o
bercinho vazio. Mas eu sabia que seria melhor pra ela.
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Laura, o presnete de Deus para nossas vidas |
O medo tomava conta todos os dias. Ví muitos casos de bebês
prematuros de mães DM que acabam falecendo. Mas aí percebi que nem sempre a DIABETES é responsável por
tudo. Haviam muitas outras mães apavoradas na UTI, com casos perigosos, bebês
que corriam risco de vida. Conhecí mães que perderam os bebês por bobeiras, e a
minha filha estava ali, forte, saudável, linda.. Com o que eu estava
preocupada?
Enfim, no dia 23/07/2015 tivemos alta da UTI, e 25/07 iamos
pra casa (DETALHE: dia do meu casamento. Saí do hospital as 9h com autorização
da assistente social, casei, e voltei pra buscar minha filha que só teve alta as
16h).
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Amo!!! |
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Família |
Acho que todas as mulheres diabéticas tem que seguir os seus sonhos, as suas
vontades. Somos normais, podemos tudo, basta querer e ter consciência. Claro
que temos momentos difíceis e vontade de
jogar tudo pro alto. Eu joguei diversas vezes.. Mas hoje, olhando minha
filha dormir, ou a cada sorriso que ganho dela, tenho certeza que minha melhor
escolha foi ser mãe, e foi ficar bem, estar bem!
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