Olá!
Hoje resolvi dar meu depoimento depois de ler um apelo falando que
talvez minha história pudesse ajudar alguma pessoa, me lembrei de quando eu
sonhava em ter meu filho nos braços, amava ler histórias de sucesso, elas me
encorajavam.
Meu nome é Vilaine, tenho 33 anos, casada, historiadora, atualmente em
casa acompanhando o crescimento da minha filha, há 19 anos sou DM1 e para me tratar uso a bomba de insulina
"pra mim" não tem como ficar grávida sem ela, talvez por que a mesma
foi uma super parceira, tendo em vista também meu histórico que vocês
acompanharão.
Minha história passada foi
triste, ruim e chatiante... É revoltante ficar doente na adolescência! Já deu
para notar que passei por todas as fases do diagnóstico né?! Revolta, negação e
etc... Iniciei meu tratamento com a insulina NPH e após um tempo a Regular veio
para o mercado, fiquei usando as duas desde então,minha família e as pessoas
que convivem comigo sempre encararam o diabetes numa boa e me apoiavam. Mas o foco aqui é
falar da minha história com a maternidade diabética.
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Assim que nos casamos |
Na adolescência me apaixonei por um rapazinho com a mesma idade que eu,
ele se tornou meu maridão, com 18 anos já estávamos grávidos e casados, foi só
a partir daí que meu tratamento tornou-se assíduo, fui apresentada a um
endócrino e tive o meu primeiro glicosimetro (há 15 anos atrás), precisava me
cuidar de verdade, pois estava gerando um bebê (usava NPH e Regular), me cuidei
e com os conhecimentos disponíveis na época tudo ia lindo, o bebê com saúde
conforme as ultras e nós felizes com a maternidade, porém no final da gestação meu bebê ficou quietinho
demais, quase não se mexia, fui ao médico, ele ouviu o coração e me disse:
- Bebês quando estão perto de nascer param de se mexer.
Eu simplesmente acreditei nele e voltei para casa, ficando de repouso do
lado esquerdo como ele tinha pedido, no outro dia o bebe também não mexeu ,voltei
ao médico (recém-formado) e na cara dele notei o desespero, o bebe já não tinha
mais batimentos cardíacos (36 semanas), ele havia morrido, foi a pior dor do
mundo! Na certidão de óbito, causa da morte dizia: Mãe diabética!
Não tinha dor maior Juan Augusto "nasceu”, parto cesárea, com 3,710kgs e 51 cm, e
para todos a culpa era da diabetes ou minha né?! A maioria das pessoas acham
que qualquer coisa que acontece conosco a culpa é do diabetes... Se gripa ,se
tem dor de dente, tudo é culpa do diabetes ou porque você não cuida doença.
Após o nascimento do Juan tive leite e não fui orientada a tomar medicamento
para o mesmo secar, sofri muito neste quesito, o leite empedrou...
Passados 6 meses de tudo isso, agora já com meus 19 anos, engravidei
novamente (usando NPH e Regular) com o
controle mais rígido, pensando que a alegria viria logo, fazendo as ultras nas
datas certas e me dedicando ao tratamento. No quinto mês toda contente levei a
fita K7 para gravar a ultrassom (não era DVD ainda), de repente vi de novo o
olhar de desespero do médico que estava fazendo o procedimento, ele começou a
gravar e parou muito rápido e assustado, nos falou:
-Não tenho boas notícias, seu bebe é anencéfalo (má formação rara do
tubo neural).
Meu mundo caiu pela a segunda vez...
A causa poderia ter sido várias, mas a glicose alta poderia ser uma das
opções, meu G.O tentava me acalmar falando que era como se fosse um acidente não
escolhe doenças, mas pra mim era por causa da diabetes. Enfim, naquela época
pra se interromper uma gestação de anencéfalo teria que entrar na justiça,
demorava, fiz questão de não entrar já estava no quinto mês, escolhi ir até o
fim, no fundo eu tinha fé que Deus faria um milagre, ou que todos estivessem
errados, optei por seguir a gravidez.
Aos 7 meses começou uma pré- eclampsia, meu médico resolveu fazer o
parto e fomos pra outra cidade pra ter nosso filho, longe de tudo e todos, a
fim de evitarmos julgamentos e falação das pessoas, não precisávamos daquilo,
já estava sofrido demais toda aquela situação, só contamos aos nossos pais o
que estava acontecendo na semana do parto.
Com 7 meses Luan Augusto nasceu vivo (parto cesárea) e depois faleceu não me deixaram vê-lo...
Como eu queria ter visto!
Passados 3 dias a pré- eclampsia virou uma eclampsia fiquei 4 dias em
coma, perdi a visão por pouco tempo e a memória por poucos dias. Depois disso
pensei em não ter mais filhos e seguir minha vida.
Resolvi investir em mim, na minha carreira, fiz faculdade, pós-
graduação viajei por 9 países, acampei, escalei, fiz tudo o que queria fazer, construímos
nossa casa e aproveitamos muito a vida... O diabetes em nada me limitou!
Gradativamente foi voltando à vontade de termos um filho, confesso que
tínhamos um certo receio, eu sempre dizia:
-Quando eu fizer 30 anos vamos ter!
Resolvi ter, fui atrás da bomba de insulina para me ajudar nesta nova
jornada. Santa bomba! Com todos os seus recursos, ia dar tudo certo. Tive
paciência, a ansiedade era tomada por uma forte calmaria de que tudo daria
certo, esperei o tempo necessário, cheguei à glicada exigida por meu médico e logo
engravidei, no início foi um misto de sentimentos, quase surtei , media o
diabetes de hora em hora, coloquei celular pra despertar durante a noite, foi
muito tenso, mas ao mesmo tempo feliz... Engravidei no mês q planejei!
Fiz uma ultra com 5 semanas, o embrião tinha batimentos, estava tudo certinho...
Que alegria! Queríamos saber o sexo do bebê, decidimos por fazer uma sexagem
fetal (exame de sangue que apresenta o sexo do bebe) e com 8 semanas descobrimos
que o Nicolas Augusto estava por vir, um garoto para nos alegrar ainda mais,
infelizmente com 9 semanas meu filho já não tinha mais batimentos e assim
fizemos curetagem.
Meu Deus! Quanta dor! Mas em meio à tormenta Deus agiu e me mandou um
médico que sabendo do meu histórico de perdas e abortos me disse:
- Você não está perdendo os bebês por causa da diabetes, algo está
errado, vamos pesquisar o motivo.
Todos os outros médicos que passei colocavam a culpa no diabetes, sem
nem pensar, agora o diagnóstico parecia ser diferente, com os exames genéticos
fui diagnosticada com trombofilia (é a propensão de desenvolver trombose devido
a uma anomalia no sistema de coagulação), ela causava trombose na placenta e
fazia-me perder o bebe, o tratamento era durante a gestação aplicar uma injeção
por dia na barriga, o objetivo era evitar a trombose. Agulhas e injeções para
uma diabética não era uma novidade, resolvi tentar novamente, já sabia a causa
dos meus abortos, era só cuidar. Estudos
mostram que o diabetes pode desencadear também a trombofilia (é o que o meu hematologista
acredita), porém para o meu G.O/obstetra no meu caso foi uma mutação em um dos
genes e não o DM. Sendo assim, não houve um consenso da causa, mas saber o que
eu tinha era uma benção, afinal eu faria o tratamento correto.
A quarta gestação já começou ruim, as ultras não nos apresentavam boas
perspectivas, até a 8 semana o embrião não desenvolveu, fizemos curetagem com
biópsia, e por meio dela soubemos que era um embrião com divisão de genes
errados não tinha como desenvolver, na biópsia dizia sexo feminino, chorei muito,
havia me cansado. Quando voltei ao medico lhe falei:
-Não quero mais, não aguento mais, desisti! A glicemia estava boa, tudo
certinho, eu medicada ...E não deu certo?! Não quero mais saber!
Ele me olhou e falou:
-Hoje fiz o parto de uma q perdeu 5. Vai lá e pergunta pra ela se ela
está arrependida de ter tentado mais!
Pensei comigo:
-Caramba vou ter que tentar de novo!
E assim aos 31 anos, engravidei. Não posso negar, fomos cobertos de
orações, inúmeras pessoas intercediam por nós, nos entregavam em suas orações,
Deus foi conduzindo tudo,foi uma gravidez calma, tranquila e abençoada.Fiz uso
de todos os instrumentos necessários para o tratamento do diabetes e da trombofilia, usei enoxaparina 40 mg, (é um anticoagulante que
evita que o sangue se coagule dentro do vaso) usava 1x ao dia + o remédio AS, continuei
com a bomba de insulina e o glicosímetro, ambos
foram super aliados no tratamento do diabetes, já não acordava mais nas noites
pra medir por que os valores estavam super estáveis, minha glicada na gestação
foi 5.8%, a injeção para a trombofilia fazia seu efeito e tudo ia correndo
bem... Pensa na minha alegria!
Se falarmos de complicações, as tive sim, mas tudo Deus providenciou, foram
dois deslocamentos na placenta e também uma infecção na placenta e até
pneumonia me sobreveio, porém considero que esta gestação foi muito calma e
tranquila, além de querida,claro (Deus estava no controle!).
No dia 21/7/2015, Maria Isabela nasceu de 36 semanas e dois dias com
3,708kgs e 50 cm, (o mesmo peso praticamente que seu primeiro irmão), parto
cesárea (agendada) com ótima recuperação, teve hipoglicemia, mas tomou soro no
berçário e não precisou de UTI, teve icterícia ( e por isso ficou alguns dias
na maternidade tomando banho de luz- nada associado ao diabetes), e com uma
semana de hospital viemos pra casa, ficamos 10 dias no hospital, eu tive alta
com 3 dias, porém fiquei mais 7 para acompanhar a Maria.
Atualmente Maria tem 1 ano e 6 meses, é amamentada desde o nascimento,
não tive dificuldades neste quesito, sem rachões nos seios, bastante leite e
não tive hipoglicemias associadas a amamentação.
Nessa jornada de sofrimentos meu marido sempre esteve ao meu lado,
cuidando de mim, me medicando, me dando comida nas hipos, sendo mais que
parceiro. Foi meu médico, enfermeiro, amigo e tudo mais de bom que as palavras
não podem alcançar... MEU AMOR! MINHA BENÇÃO, AMO VOCÊ!
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Maria Isabela e uns frasquinhos de enoxaparina 40 mg, remedio da trombofilia |
- Quer outro bebê?
Respondo:
- Simmmm!!! Quero!!! Só preciso me organizar com o diabetes, pois dei
uma certa acomodada, mas acho que se minha filha não mamasse no peito já teria
me programado pra encarar tudo de novo! Se Deus me permitir ano que vem quero!
A vida de mãe é corrida, mas me considero privilegiada, tenho a
oportunidade de estar em casa vendo-a crescer, cuidar de mim e da rotina do
lar, há uma pessoa que me auxilia nas tarefas diárias, o que facilita um pouco,
mas não me isenta de responsabilidades.
Quanto a trombofilia o tratamento diário se dá apenas na gestação, só
preciso me medicar caso faça uma viagem de avião que leve mais de duas horas,
caso contrário nada necessita ser feito.
Seu depoimento é incrível!
ResponderExcluirTenho 19 anos hoje mas controlo minha diabetes apenas com alimentação, namoro já a 2 anos e nosso maior sonho é construir uma família.. E eu ja estava sofrendo por antecipação imaginando mil coisas, inclusive que nunca conseguiria engravidar! Esses depoimentos são muito importantes pra todas as mulheres diabéticas que sonham em ser mae!
Oi, que bom ler seu relato. Descobri diabetes faz 10 anos. E agora descobri mutação genetica (gen 677c) com homocisteina normal. Me indicaram tomar Clexane e outro medico disse que eu não precisava. Tive aborto total na quarta semana e agora estou pensando se quero realmente engravidar, tenho muito mesi. Além do diabetes mais essa alteração para trombofilia!
ResponderExcluirTenho diabetes tipo 1 quero muito ser mãe tive 2 perdas em 2016 e 2017 duas meninas uma chamava Maria Antônia é outra Emanuelly Vitória elas eram lindas as duas eram iguais o Pai delas queria tantos elas aqui comigo hoje não sei porque isso aconteceu comigo já pensei em desistir de ser Mãe tanto que já sofri por tudo isso quê passei pelas perdas das minhas filhas é difícil viver sem elas queria tanto ser Mãe perdi as 2 com 8 mês de gravidez não sei até hoje o porquê os médicos falar quê é pôr causa dá diabetes mais não sei até hoje já vai fazer 2 anos que perdir a primeira filha é a segunda vai faz 5 meses muitos falar quê pode ser trombofilia
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