Sou diabética tipo 1 há 18 anos, hoje, tenho
31. Desde os 12 anos aprendi a conviver com agulhas, glicosímetros, contas de
carboidrato e exames de sangue e urina constantes. Passei por várias fases: Lua
de Mel - quando ainda estamos no “primeiro amor” com o tratamento; pela
revolta; desleixo com o tratamento; o “susto” e a aceitação. Devido ao
mau controle, aos 23 anos, fui acometida com a Retinopatia diabética e com uma
nefropatia, também. Após esse susto de quase perder a visão e o mau
funcionamento dos rins, passei a me cuidar, tomar as injeções devidamente e a
frequentar o médico periodicamente.
Passados 4 anos, decidimos, Rodrigo e eu, que
teríamos outro filho, eu estava com 29 anos e conversei com o Endócrino, pelos
meus exames: glicada em 7,1 e demais complicações do diabetes (Retina e rins)
sob controle, ele deu o aval para a gravidez. Em março de 2016, descobri que
estava de 4 semanas e passei a fazer o controle do diabetes e o pré-natal no
mesmo lugar da gestação anterior: o Centro Obstétrico do HC, no ambulatório da
Mãe Diabética. Aliás, gostaria de deixar meu agradecimento para toda
equipe e, em especial, para o Rodrigo Codarin - que entende minhas ironias, hahahaha!
A competência desse atendimento é inquestionável e funciona.
Dessa forma, fui para segunda gestação mais
segura, mais empoderada e mais feliz. Tive algumas questões com a glicemia -
que variou muito, mas o grande problema foram as hipos - não tive qualquer
outra complicação, tudo correu como o esperado. Tivemos que optar pela cesárea,
pois não entrei em trabalho de parto até a 38ª semana e a glicemia começou a
subir muito na última semana de gestação. Foi uma cesárea eletiva, com tudo sob
controle.
Durante a gestação, foram consultas semanais
para ajuste das insulinas: NPH e lispro, que eu tomava de 3 a 4 vez por dia
(cada uma), doses fixas, sem alteração conforme a glicemia, somente a equipe
médica podia alterar as doses. Dextros eram feitos 7 vezes ao dia, no
mínimo: antes e depois das refeições e às 3:00 da madrugada. Alimentação mais
restrita quanto ao sal, carboidratos simples e gordura. No demais, vida normal,
continuei trabalhando até 20 dias antes da nenê nascer e, dez dias antes
do parto, eu viajei para apresentar minha pesquisa em um congresso. A segurança
no tratamento foi muito importante para que a segunda gestação fosse bem melhor
que a primeira. Sentir segurança na equipe médica e na eficiência do tratamento
me deixou 200% mais segura! Por fim, o planejamento fez TODA a diferença.
Gostaria de explorar outro lado da segunda
gestação: a amamentação. Na primeira gestação, muitos mitos da amamentação
(leite fraco por conta da alimentação restrita, exigir demais do corpo,
hipoglicemias incontroláveis) me fizeram desistir da amamentação aos 6 meses do
Bernardo. Na segunda gravidez, aprendi algumas coisas que me incentivaram
amamentar exclusivamente durante 6 meses e continuar enquanto eu puder e a Nina
quiser.
O primeiro mito: NÃO EXISTE leite fraco, se
você tem restrição alimentar, como eu, você não terá um leite fraco; a mulher
mais desnutrida do mundo consegue amamentar seu filho com qualidade! Segundo:
amamentar exige do corpo? Sim! Mas a não ser que seus rins estejam parados,
seus pulmões em falência, dá para amamentar, sim. Ressalva para pessoas que
vivam situações muito específicas de saúde, mas, em geral, para uma diabética
minimamente saudável, que controle a glicemia e faça o tratamento, pode
amamentar, SIM!!!! Terceiro: dá para controlar e prever as hipoglicemias, se
alimente toda vez que o bebê for mamar muito (com o tempo, os bebês vão
estabelecendo um ritmo e a gente sabe quando vai ser uma mamada longa e uma
mais curtinha); faça testes de glicemias antes das refeições, no entre mamadas
longas e de madrugada! Você vai saber mais ou menos quando está com tendência
de hipo e poderá se alimentar com carboidratos mais simples, quando necessário.
Por fim, para amamentar, a gente precisa
conhecer muito o bem o diabetes e a amamentação! Não existe leite fraco e mãe
diabética pode amamentar, sim! Nosso leite é igualzinho de mães não diabéticas;
não vai passar nada no leite para seu bebê (a não ser que você tenha alguma
doença que impeça amamentar: HIV, Sífilis, hepatite, etc). A minha intenção com
esse relato é: incentivar o planejamento da gestação e o conhecimento de
amamentação. Amamentar é um vínculo que só quem amamenta sabe, é muito amor e
dedicação que faz bem para o bebê e para a mãe. Além do que, evita câncer de
mama (sim, mulheres que amamentam têm menos tendência a ter câncer de mama).
Para ter um bebê saudável e feliz, seja
saudável e feliz com seu corpo e com sua condição: não se restrinja de ser uma
mãe como qualquer outra por conta do Diabetes, cuidando-se, é possível!